sexta-feira, março 02, 2007



"Aqui eu te amo.

Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.

Fosforece a lua sobre as águas errantes.

Andam dias iguais a perseguir-se.

Descinge-se a névoa em dançantes figuras.

Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.

As vezes uma vela.

Altas, altas, estrelas.

Ou a cruz negra de um barco.

Só.

As vezes amanheço, e minha alma está húmida.

Soa, ressoa o mar distante.

Isto é um porto.

Aqui eu te amo.

Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.

Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.

As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,

que correm pelo mar rumo a onde não chegam.

Já me creio esquecido como estas velhas âncoras.

São mais tristes os portos ao atracar da tarde.

Cansa-se minha vida inutilmente faminta...

Eu amo o que não tenho.

E tu estás tão distante.

Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.

Mas a noite enche e começa a cantar-me.

A lua faz girar sua aureola de sonho.

Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.

E como eu te amo, os pinheiros no vento,

querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre. "


Pablo Neruda

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