sábado, março 17, 2007



Tu que não sabes da tarde, das coisas mais simples, tu que esqueces-te os olhos na poeira do mundo...


Tu que desaprendes-te a caminhar e agora vives em espiral, com uns sopros estranhos, como folhas que se elevam e giram no ar para depois se espalharem na rua.


Tens uma doçura insuspeita presa nos gestos e no olhar... diariamente costuras o medo do avesso.


E a tua vida é um refazer-se, é buscar o desfeito, costurar-se em alinhavo, emendar os rasgos, encostar as pontas, cozer e juntar...


Às vezes andas para trás e refazes os dias sem a tua trilha, sem as estrelas que puseste nos olhos, num outro tempo que não o tempo que fizeste, tão maior, e aí cabem todos os momentos esquecidos e as memórias do que fostes.

sexta-feira, março 09, 2007

a vida gravada na pele...




"...O mundo inteirinho
Se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor
Por causa do amor
Por causa do amor
Por causa do amor...»

sexta-feira, março 02, 2007



"Aqui eu te amo.

Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.

Fosforece a lua sobre as águas errantes.

Andam dias iguais a perseguir-se.

Descinge-se a névoa em dançantes figuras.

Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.

As vezes uma vela.

Altas, altas, estrelas.

Ou a cruz negra de um barco.

Só.

As vezes amanheço, e minha alma está húmida.

Soa, ressoa o mar distante.

Isto é um porto.

Aqui eu te amo.

Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.

Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.

As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,

que correm pelo mar rumo a onde não chegam.

Já me creio esquecido como estas velhas âncoras.

São mais tristes os portos ao atracar da tarde.

Cansa-se minha vida inutilmente faminta...

Eu amo o que não tenho.

E tu estás tão distante.

Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.

Mas a noite enche e começa a cantar-me.

A lua faz girar sua aureola de sonho.

Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.

E como eu te amo, os pinheiros no vento,

querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre. "


Pablo Neruda