sexta-feira, janeiro 12, 2007

saí...

pintura de Graça Martins

Agora que saí do edifício, posso apanhar sol, caminhar livre como se fosse pela primeira vez, e deixar para trás essa luz esverdeada que me pesava no cérebro.


Quedo-me parada a sorver tudo o que me rodeia, a pressa de toda a gente. Observo um casal, ela aproxima-se dele e tapa-lhe a boca com os dedos. Sorriem...


Gosto de sair à rua, quer chova ou faça sol, anseio por ar puro, livre de cheiros humanos, pela claridade da lua, mesmo que acompanhada por uma forte chuvada.


E quando chega ao fim o dia, é nos últimos momentos do sono que me sinto mais viva, saltando de um fragmento do dia para outro. Levo cada instante comigo para a cama, como as crianças levam os livros e os lápis da escola.


E penso...


Tem sido uma longa e atribulada espera. Mas certas coisas têm de levar o seu tempo. Mesmo sabendo isso, sento-me inquieta. É um vazio palpável, uma insatisfação constante. Nestes sete meses, aos poucos, foi adquirindo texturas, cor, cheiros, foi ficando mais acolhedora, quase completa. E houve muito cuidado na escolha, minúcia na busca, cores, tecidos, disposição dos elementos, com minúcia, como se cada pormenor fosse uma das células que compõem um corpo.


Agora encontra-se suspensa a moer no peito... por momentos sinto-me a subir pelos ares, para logo voltar a descer, arrastada.